Você. Isso tudo, inteiramente sobre você. Meus dias têm girado ao seu redor e, adivinha? Nem me importo com a tontura que acompanha as suas voltas. Eu danço conforme a música que você escolher para a trilha sonora do meu dia.
Dias, mas não só manhãs. Tardes, noites e madrugadas. Às 7h, 12h, 18h, 22h, 00h, 3h45. Horas exatas e intervalos. Horas iguais e horas quebradas e tudo mais uma vez. No café, almoço, janta e lanchinhos saudáveis ou engordativos. De segunda a segunda nas rotinas. Sextas que emendam sextas nas folgas e preguiças. Desde quase março até o presente. As folhas que caíram no outono das árvores que hoje floreiam na primavera de setembro.
Passado, presente, futuro. Horas, minutos, segundos e o tempo que a gente não sabe mais contar. Por anos e décadas, nessa vida e nas próximas outras trinta mil que eu quero te encontrar. Quando eu leio sobre amor, sobre arte, anatomia ou sobre a Guerra Fria. Frio, calor, no Trópico de Capricórnio ou na Linha do Equador. No Brasil de Norte à Sul e em São Paulo de Leste à Oeste, no litoral e no interior. Litoral, os mares que banham a sua rotina e os oceanos – do Atlântico ao Pacífico – que têm em segredo te guardado para mim. Sobre você, sobre mim, na beira de um precipício.
Mais uma sobre nós. Nos choros, berros, risos e cócegas. Na TPM – a minha durante cinco dias de cada mês e nas suas que são inesperadas. Seu masculino e o meu feminino, e também os meus momentos cueca e os seus momentos calcinha. Que os meus lábios grossos devorem para sempre a sua boca de contorno perfeito. E a minha pinta na nuca e a sua mancha no calcanhar. Sua malícia e a minha inocência e vice e versa, e verso e avesso. E tanto faz. E tudo isso. Essa é mais uma sobre nós.
Nós. Meu rock e o seu rap e as nossas viagens ao som de Eric Clapton ou de Bruno Mars. Seu par de olhos verdes nos meus que são escuros. Nossos cabelos lisos, finos e com o mesmo tom de castanho. Nosso vinte-e-nove de fevereiro, ano bissexto – não me esqueço. O seu quase outubro com o meu fim de dezembro. Sua balança com o meu sagitário. O elemento de ar que intensifica o elemento de fogo. O quanto queima quando é tudo sobre nós, incendeia o quarto, a sala e a varanda.
Essa é mais uma de muitas outras sobre você. Durante os desenhos animados, a sessão da tarde e o jornal que fecha as noites. Nas horas vagas e nas preenchidas por outras mil ocupações. Na Cruzeiro do Sul, na Órion, na Ursa Maior ou onde mais enxergarmos constelações. E no carro, no trem, na bike ou quando saio de patins. Das ruas a Paulista, a Abbey Road ou a Quinta Avenida. Sobre você em qualquer esquina.
Doçura, acidez, amargura e o gosto apimentado – todos teus sabores me fazem lamber os lábios. As palavras aqui são completamente suas, assim como eu. Sua por pedaços, fatias, metades que se juntam em um inteiro. Sua por inteiro por quanto tempo precisar. E essa é só mais uma de outras tantas que são sempre sobre você.
(Autora: Mainá Belli)
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