Já reparou como todos nós somos o Joel e a Clementine da vida real? Isso mesmo, o casal de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Às vezes carregamos um pouco dele e às vezes um pouco dela. Sem contar a narrativa fragmentada, fora de ordem cronológica que pode caracterizar os mais interessantes e destrutivos relacionamentos que a gente, assim sem querer, acaba causando. Você no papel de Joel se pega de vez em quando pensando em como gostaria de contar algo para Clementine ou ainda como seria confortante se ela estivesse naquele momento contigo. E bom, ela não está…
Apagar algo é complicado não é? Especialmente se o “algo” não pode ser removido facilmente com uma borracha ou água e sabão. Não implica apenas em deixar para lá as coisas ruins que achamos que os outros fizeram com a gente, esquecer as implicâncias, impulsividades e julgamentos. Implica esquecer também os nossos próprios erros. E, convenhamos, se retirarmos os erros o que sobra de nós? Sobram apenas as mentes inexperientes e sem lembranças. Cara, não sobra NADA!
Com o tempo a gente percebe que os relacionamentos mais tumultuados são também os mais intensos e – porque não? – os mais interessantes. Quando você acha que esqueceu você supõem que seja um desperdício não lembrar de algo tão profundo. Aí então você, sem muito esforço, se lembra até dos detalhes que estavam escondidos em um cantinho quase intocável da sua mente. Tudo retorna com a mesma reviravolta e confusão. Retorna e você acha que deve esquecer novamente. E o faz mesmo, pelo menos até que o cronômetro dos sentimentos volte à posição inicial. Não podemos esquecer os motivos pelos quais não queremos esquecer!
Somos o Joel e a Clementine da vida real. Todos nós, sem excessão. Tumultuados, intensos e carregando toda essa loucura julgada momentaneamente sensata quando estamos apaixonados. Somos completamente insanos às vezes – eu sei, eu também faço parte do grupo – mas são histórias insanas assim que valem a pena serem contadas nos filmes.
Mainá Belli
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