Daquela vez eu podia jurar – de pés juntos e tudo mais – que era amor. Os sinais estavam claros, um tantão de tun-tun-tun’s acelerados percorrendo as estradas do meu corpo à mil por hora. Meu coração palpitava invadindo cada partícula do meu sistema cardiovascular. Foi só depois de alguns exames que pude constatar, meu bem, não era amor; era apenas uma patologia cardíaca. Mas não se preocupe, é só um detalhe genético que herdei. Do coração eu não morro e tampouco do amor que eu achei originar de você.
E a verdade é que, quando você passava aqui por perto, de mim jorravam vontades, expeliam desejos intensos. Sim, as famosas borboletas que dançam em nosso estômago quando estamos apaixonados estavam lá cumprindo muito bem o seu papel, bailando em ritmo frenético, passando do esôfago ao intestino na mais bonita das coreografias. Aí eu cegamente acreditei que era amor. No fim das contas era apenas uma baita dor de barriga. Um xarope e um chá de boldo, e aí passou.
Tiveram madrugadas em que o sono de mim fugia. Teu nome sucumbia minha mente em forma de sons, vozes vorazes e arrepios desde os pés até as minhas entranhas. Virava revirava, mudava de posição, me encolhia, me esticava, me dobrava e desdobrava e voltava à posição inicial. Daí lembrei, toda aquela insônia não podia ser amor, era apenas a overdose de cafeína que havia ingerido ontem desde às sete da matina até o fim do jornal que na tevê embala as noites de segunda à quinta.
A minha cabeça girava lentamente e a vertigem me fazia pender para um dos lados. Confundia os rostos e embaralhava a mente. Lembrei de você e aí, meu bem, eu apenas sorria. Sorriso bobo e toda aquela tontura que vinha com a lembrança da tua imagem. É, até poderia ter sido um dos sintomas do amor, mas naquela noite eu sabia: Era tudo culpa do excesso de Vodka e de umas doses extras de Tequila.
Quando eu te olhava apenas via o lado bom; fitava teus olhos fixamente e de lá a verdade parecia estar estampada. Eu poderia ter enxergado a realidade assim, logo que cara, mas foi só depois da ida ao oftalmologista que constatei os dois graus de astigmatismo e os outros cinco de miopia.
O seu toque me fazia arrepiar os pelos do braço, da barriga e da nuca. Um frio contínuo na espinha. Quando eu tive a brilhante ideia de fechar a janela eu percebi: o que causava arrepio era o vento gelado e não a ausência dos teus beijos ou abraços. Agora eu vejo, não era amor, não passou nem perto disso.
Achei que fosse amor, mas o sentimento disso tudo só pode ser nomeado decepção. Quando na loja a calça que você gosta não tem na sua numeração; quando você descobre que o garoto bonito da balada tem namorada; quando o livro que você almeja na livraria só vem por encomenda; quando compramos algo pagando um preço alto e na outra semana já está em promoção. Apenas cócegas quando o certo era cair no chão de tanto gargalhar. Sabe aquela sensação quando a gente abre o freezer e o pote que parece ser de sorvete é só o resto de feijoada congelada da semana passada? Foi bem por aí. E antes eu jurava – de pés juntos e tudo mais – que era amor.
(Autora: Mainá Belli)
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