Ei,
Amor, não precisa entender e nem precisa chorar – certas coisas são entendidas pelo Universo como acertos, apesar das falhas tingidas em tons de neon em um outdoor de uma estrada sem saída. Apesar dos erros varridos por baixo das cortinas de uma sala sem janela, virando pó nesse vulcão inativo.
O Sol brilha e congela a ponta do nariz. Congela as sardas do rosto arredondado. Só não congela o tempo. Este arrasta as lembranças mal vividas e bate na porta aqui de casa seis vezes a cada mês – tenho contado. E Agosto mal começou.
Ei, isso tudo é apesar do que foi dito da boca para fora. O que foi xingado, amaldiçoado e cuspido. Apesar da brincadeira jogada fora do tabuleiro e dos dados que caíram embaixo da mesa de madeira. Apesar das regras rígidas combinadas em desordem com o espírito aventureiro que os horóscopos costumam me impor mensalmente.
Meu amor, não desperdice essas lágrimas com gosto de água do mar, deixe-as salgar essa imensidão azul e me acompanhe aqui da areia. Tô precisando enxergar através dessa visão privilegiada desse horizonte que corre na vertical.
Não sei se as libélulas espalharam a notícia para os teus ouvidos durante teu sono, mas a minha grande novidade – estampada como manchete no jornal que eu não criei – é a de que tenho distribuídos beijos por aí. Por aí por onde ando. Por aí para quem eu quero. Por aí por que eu gosto. Por aí por enquanto já que eu ainda não sei dançar a nossa valsa. Mas se a correnteza fluir para o oeste vou poder te ver mais uma vez. Ei – espere mais um pouco – os beijos guardados para ti podem facilmente serem levados pelos ventos soprados em canudo bicolor. Mas só se você permitir…
Quero um cenário parisiense do século passado e um encontro qualquer embaixo da torre Eiffel. Quero nossos nomes em destaque nos créditos rolando no fim do filme. Que seja em preto e branco, que seja eternizado. Ei, não gaste suas lágrimas que já nem são mais doces. Lembre-se de que, quando as luzes se acendem, os figurantes saem do cinema e sobraremos nós dois com os lenços usados e os olhos avermelhados.
Ei, amor, a vitrola antiga toca um blues e nós não valemos essa lágrima derrubada com gostinho de algodão. A neblina já baixou e o açúcar cristal cobre o fim do copo. O destino tem me mostrado que certas respostas estão guardadas em um cofre escondido atrás de uma obra-prima surrealista. E eu – ainda – nem tenho a senha de acesso.
Construiremos nossa base em um futuro qualquer e quando eu estiver pronta para a valsa te chamarei para a brincadeira de telefone-sem-fio. Mas, – ei – quando um dia a gente se trombar por aí, me avise – gritando por entre os girassóis amarelos – que é aqui, com os pés descalços tocando a grama, que os nossos sonhos são feitos como limonada.
(Autora: Mainá Belli)
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