Um beijo e um bocejo. A coberta que antes fervia hoje é fria, e não podemos culpar o vento que passa pela janela aberta em um terço.
Cadê você? Não somos mais eu e não somos mais você. Enxergo-te sob a luz do fim do dia e reconheceria daqui ou a doze mil milhas. Reconheceria teu cabelo grunhido e a expressão que congelou sorrisos. Eu te reconheceria.
O que vem com o abraço. Certa indiferença, e a garrafa de vinho já está um terço vazia. Caímos no comodismo? No dia a dia rotineiro? No fim, foi como nos disseram uma vez sobre o amor – às vezes ele acaba; às vezes machuca até sangrar; e o nosso às vezes acontece. Às vezes o amor é esmagado pelo tal do triturador chamado tempo. Vira pó.
A pele já não ouriça mais e as mãos – antes inquietas – hoje já não sabem por onde agir. Enxergo-te com o olhar distante e a mente parcialmente rasa. Eu te reconheceria. Mas, meu amor, já não posso te sentir. Encontrando-me inteiramente aqui, meu corpo sedento já não suporta menos que metades. Um terço.
Meu jeito de gesticular os dedos em estalos, carregando a ansiedade presa no ambiente. Não me beije. Apenas entenda; nossos polos agora negativos repelem a aproximação.
Os corpos se tocam em instantes de outras dimensões. Como sentir saudades de alguém que está neste momento segurando a tua mão? Não somos mais eu e não somos mais você. Não somos nós.
Indecisões. Comodismo. Quando ainda é ok. Quando ainda é bom. Mas, meu amor, o bom não é ótimo. E o ótimo não nos completa mais que um terço.
(Autora: Mainá Belli)
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